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Entrevista: saiba mais sobre o que pensa o novo presidente Sylvio Eugenio

30/07/2024 04:36

Patrícia Nogueira/Divulgação

A partir de hoje vamos iniciar uma série de entrevistas com a nova composição da Diretoria Executiva da Prevcom.

Vamos começar com o presidente Sylvio Eugenio Araujo Medeiros.


Você costuma dizer que previdência é coisa de gente jovem. Como assim?

Tudo que é ligado à previdência parece ter uma imagem de que é algo para se pensar no futuro. Mas até que ponto alguém que acredita ser capaz de comandar o próprio destino pode, no final, dizer que conseguiu?

A vida tem surpresas, boas e ruins. É o que chamamos de risco. Lidamos com eles a vida toda, não só quando envelhecemos. Se não tratarmos disso enquanto jovens, perdemos a chance.

Propósitos são o que nos move. É difícil imaginar viver uma vida sem eles. Nem o Zeca segue somente na base do “deixa a vida me levar”. Todos temos sonhos. Mas qual o limite da nossa capacidade de construir o futuro e driblar os riscos?

Só conseguiremos sucesso no futuro, se tivermos ajuda, desde jovens.  


Que tipo de ajuda?


Nossa evolução até o topo da cadeia alimentar se deu com base na nossa capacidade de cooperar mutuamente. Sem a ajuda mútua, teríamos sido extintos ao longo da evolução, por conta dos riscos.

A sociedade é fundada na cooperação, na distribuição, no trabalho especializado.  


E como isso se relaciona com a previdência?


Costumo provocar a reflexão dizendo que o futuro não é mais como era antigamente.

A seguridade social é ajuda mútua, tanto que já se chamou mutualismo. Muitos cooperam para que os poucos que precisarem de ajuda, possam contar com ela. Mas ela só funciona se, estatisticamente, houver menos pessoas precisando de socorro social do que pessoas contribuindo para sustentar este socorro.  


Mas já não é assim que funciona?
Estamos vivendo por mais tempo, cada vez mais. E isto vem junto com o sonho de prosperidade. Ou seja, viver uma vida financeiramente resolvida, podendo, ou não, trabalhar mais ou trabalhar somente naquilo que nos motiva, como projetos e sonhos, sem se preocupar com dinheiro.

Mas o que acontecerá no futuro se houver menos pessoas para contribuir com a seguridade e mais pessoas precisando dela? A população não está mais crescendo como antes. Isto acontece em todo o mundo.      


E no Brasil, qual o quadro atual?


Hoje, no Brasil, temos a maior quantidade de pessoas que já existiu em idade para trabalhar, produzir e contribuir. Mas chegamos até aqui sem fazer o dever de casa. O momento em que estamos é aquele em que todos os países desenvolvidos deram o seu salto de prosperidade. Tanto que se chama “bônus” demográfico.

Ocorre que chegamos aqui sem conseguirmos níveis de produtividade que assegurassem um aumento das nossas riquezas, mesmo sem o aumento da quantidade de pessoas para produzi-las. E nossa população já não cresce como se esperava. Então, quando as pessoas que hoje trabalham estiverem mais velhas, vivendo o seu futuro, a prosperidade sonhada pode passar longe da realidade que encontrarão.  


Por isso é que o futuro já não é mais como era?


Exatamente! Haverá menos pessoas contribuindo e mais pessoas precisando da seguridade, leia-se, aposentadoria. E se hoje o déficit da previdência já é a conta que mais preocupa os analistas de economia, como será no futuro, em que menos pessoas conseguirão bancar os impostos e contribuições que não param de aumentar?

Na direção que estamos indo, o Estado não será capaz de prover o bem-estar que está hoje contratado socialmente. Simples assim. E não podemos ser ingênuos e imaginar que os governos vão ter que se responsabilizar por isso: se a estrutura da sociedade está caminhando para esta direção, não há governo que possa mudar isso.  



Patrícia Nogueira/Divulgação



Mas o Estado pode não conseguir pagar as aposentadorias no futuro?

Exemplos não faltam, as contas públicas correm riscos também. E quando isso acontece, todos os direitos, adquiridos ou esperados, estão em jogo. Desde a Promulgação da Constituição Federal, em 1988, até hoje, já ocorreram 6 reformas previdenciárias: Emenda 20, Emenda 41, Emenda 47, Emenda 70, Emenda 88 e Emenda 103. Em todas elas, expectativas de direito foram retiradas.

Se ao longo delas o setor público vinha se mantendo em regras mais favoráveis do que o setor privado, nas últimas estas condições vêm se aproximando e, para ambos, a expectativa de aposentadoria ficou mais distante. Já se discute uma nova emenda, pois se entende que uma outra reforma será necessária. Certamente, estamos falando de redução nas expectativas. Para todos.  


Então como podemos assegurar um futuro mais próspero?


A resposta é simples: poupando mais. Mas isto requer disciplina, conhecimento e controle. É muito difícil fugir dos riscos ao longo deste caminho, sem ajuda de quem realmente tem as competências para isso. É aí que as entidades de previdência complementar entram em cena.  


Mas no setor público, previdência complementar é para quem ganha acima do teto, correto?

De modo algum. Todos ganham. Dificilmente a prosperidade está assegurada se o servidor não fizer a sua própria poupança. E a Prevcom, assim como outras entidades, tem este papel de garantir que este esforço de abdicar de um consumo no presente para assegurar um futuro melhor seja compensador.

Para quem ganha acima do teto hoje, o Estado assegura uma contrapartida de contribuição de igual valor. Então, para estes casos, a rentabilidade das reservas já cresce 100% a cada mês. Mas todos precisamos poupar porque nossa prosperidade não está assegurada. Isso acabou no mundo.  


Isto significa que as aplicações têm que começar cedo e serem rentáveis, correto?


O quanto antes começarmos, melhor. Para meus filhos, assim que sai do cartório para registrá-los, fui fazer o plano de previdência. E vou contribuir com isso enquanto estiver vivo.

Sobre a rentabilidade, ela é o prêmio que se paga pelo risco que se corre nas aplicações. Então não se deve buscar somente a rentabilidade, mas ajustar o risco ao perfil de cada um. Por isso, desenhamos uma política de investimentos que cria estas condições de equilíbrio entre a possibilidade de riscos e a necessidade dos retornos.  


Como isso funciona?

Na Prevcom, começamos a discutir a criação de perfis de risco sob uma ótica que leve em consideração tanto o momento de vida de cada indivíduo quanto o seu apetite para correr mais ou menos riscos.

Risco é variação no resultado esperado. Então, pode ser para melhor ou para pior. Correr mais riscos pode te trazer ganhos ou perdas. Se houver perdas, tem que haver tempo para se recuperar. Então, não dá para uma pessoa que está próxima da aposentadoria aplicar tudo o que tem em ações, por exemplo. Se houver uma queda, pode não haver tempo para recuperar as perdas.

Os perfis de risco buscam associar o que chamamos de apetite a riscos com o tempo disponível. Mais tempo, mais riscos. Menos tempo, mais preservação do que já se conquistou nos tempos em que o risco podia ser maior.  


Qual a sua mensagem para quem quer assegurar um futuro mais próspero?

Previdência é coisa de gente jovem. Particularmente, inclusive, acho este um nome ruim. Prefiro trabalhar com um conceito mais abrangente, da construção de uma independência financeira que permita a realização de sonhos e propósitos ao longo da jornada, não apenas ao seu final. Uma das frases que me marcou, mas que nunca consegui encontrar o autor é “tenha planos para o dia, metas para o mês, objetivos para o ano e sonhos para a vida toda”. Penso nisso sempre, porque é uma forma muito poderosa de ver o nosso propósito se realizar.

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