Flavia Nazaré é formada em Administração, com mestrado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e pós-graduação em Economia do Setor Financeiro. Saiba mais aqui.
A diretora de Investimentos da Prevcom, Flavia Nazaré, traça o panorama de como os mercados se comportaram em fevereiro.
Bolsa de valores
Fevereiro não teve brilho nem Carnaval. Com a COVID-19 fazendo aniversário na rotina do brasileiro, nem mesmo o início da vacinação foi suficiente para estimular a alta da bolsa diante de tantos “eventos surpresas”.
O mês começou com rumores de uma possível greve dos caminhoneiros posicionados contra a alta dos combustíveis e acabou com a escalação, por parte do presidente Bolsonaro, de um novo presidente da Petrobras, o que culminou em um forte estresse nos mercados.
A COVID-19 e a nova cepa brasileira pioraram, trazendo mais mortes, ainda reflexo das festas de fim de ano. O resultado foi a volta do isolamento e vários Estados com lotação máxima das UTIs.
Se não bastasse um ambiente tão hostil, o mercado ainda abriu brechas para temores e fofocas como a demissão de André Brandão do Banco do Brasil e o estremecimento do relacionamento entre Paulo Guedes e Bolsonaro, também afetado após a indicação de novo presidente da Petrobras.
A bolsa fechou fevereiro com queda -4,37% aos 110.035 pontos, devolvendo os ganhos de dezembro/2020, com uma variação acumulada negativa de -7,55% no ano de 2021.
Juros
Caíram as barreiras tarifárias? Não. As reformas fiscais foram aprovadas? Não. Houve aprovação da nova PEC do auxílio emergencial? Não. Há perspectiva de aceleração da vacinação e com isso um aquecimento do PIB? Não. Há meses que os mesmos itens estão no radar dos investidores que, em fevereiro, continuaram sem respostas. O mercado parece perder força com uma perspectiva mais realista de a trajetória da dívida pública ser inflada não pela PEC em si, mas pela morosidade do governo.
Com tanta incerteza local, novamente a estrutura a termo de taxa de juros negociada na BM&F refletiu alta nos prazos mais longos. Acrescente a este cenário a pressão de alta nos Treasuries (o tesouro norte-americano) ante a perspectiva de inflação nos EUA, o que fez o mercado precificar na BM&F alta de juros já em março, na reunião do COPOM. Será?
O CDI rendeu +0,13 no mês e acumula +0,28 no ano. Já o prêmio pelos títulos públicos aumentou e refletiu no IMAB5, que caiu -0,60% no mês e -0,49%, no ano.
Câmbio
Pela cotação do Banco Central (Ptax 800), o dólar teve alta +2,41% no mês, cotado a R$ 5,60, acumulando alta de +7,79% no ano.
O euro, já valorizado, subiu +1,79% cotado a R$ 6,76%, uma alta de +6,54% no ano.
A alta nos juros dos Treasuries, com possível cenário inflacionário nos EUA, pressionou o real mesmo com grande volume de dólares injetados pelo Banco Central no mercado em fevereiro. As notícias que agitaram o mercado em fevereiro não interferiram apenas na bolsa e nos juros. O risco “sistêmico” atrapalhou o fluxo de investimento estrangeiro que tivemos nos últimos meses.
Cautela é a palavra de ordem para todos investidores no mercado local e exterior.
Resumo
Para quem diria que o ano só começa após o carnaval, já vivemos dois longos meses em 2021 e a palavra que pode definir este ano e alguns próximos é velocidade. A expressão “tempo é dinheiro” diz muito sobre o mercado investidor, que segue mais cauteloso, ante os riscos sistemáticos que se apresentam, a morosidade no programa de vacinação, indefinida condução da PEC, entre outros eventos que podem acarretar em uma desconfiança do mercado com a capacidade do governo em equilibrar o cenário atual.
No dia que escrevemos esta coluna, foi divulgado pelo IBGE o PIB de 2020: retração de -4,1%, dentro das projeções, mas recorde, foi impulsionada pelo setor de serviços que representa 2/3 do nosso PIB. O comércio e a indústria já voltaram aos patamares normais impulsionados pelo aumento do crédito, do consumo das famílias em função de taxas de juros mais baixas e dos programas de apoio do governo (auxílio emergencial).
Tempo de recessão. Quanto tempo? A velocidade do Brasil em tratar as políticas públicas sanitárias, fiscal e monetária responderá. Que seja logo!
Seguiremos atentos em março aos mesmos fatores de janeiro que, entre outros, agora se acumulam:
_ Comportamento da Inflação IPCA-15, IGP-M e IPC-A;
_ Dilema do preço dos combustíveis e a interferência do governo na Petrobrás;
_ Que interfere diretamente no valor das ações e do IBOVESPA;
_ Calendário de privatizações;
_ Inflação e juros dos Treasuries norte-americanos;
_ A Covid-19, o calendário de vacinação, a evolução de novas cepas e mortes recordes após o feriado bancário de carnaval e reinício de isolamento em vários Estados;
_ O Copom manterá a taxa em março?;
_ Trabalhos no Congresso Nacional. (política fiscal);
_ Dispersão das projeções do mercado para câmbio e juros em 2021 e 2022.